segunda-feira, 7 de setembro de 2020

 Migração

Parti há muitos anos desta terra
Para nunca mais voltar
Mas o mar devolve ao mar
Tateio a procurar um livro no escuro
Olhos se aguçam defronte ao muro
Enquanto soa o freio de uma bicicleta
De um trabalhador voltando
Tarde com a boca seca da casa
Sempre que escrevo
No escuro algo se esgota
Barcos que dormem
Nas obscuras docas
A vida é uma torrente
Deixa passar o que importa
E fica apenas o presente
Não é vento às costas
Se aves invisíveis migram
Rente às minhas encostas
A poesia pergunta
Ao mar o que seria
Sem o próprio sal?
I.J.S.F., 05/09/2020